Não é preciso ser nenhum especialista em política internacional para imaginar que, no nosso mundo globalizado, as diferenças salariais são grandes entre os países. A essa diferença une-se outro problema social que é a diferença de rendimentos entre pobres e ricos.
O Relatório Global sobre Salários 2008/2009 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado em novembro de 2008, mostra várias facetas dessas diferenças, que muitas vezes revelam questões estruturais.
Em 2006, 46,9% dos trabalhadores do mundo eram assalariados ou com rendimento periódico permanente. Os países desenvolvidos registraram 84,3% dos trabalhadores nessa situação, enquanto os países do sul da Ásia, apenas 20,8%. A América Latina e o Caribe estão em uma posição intermediária com 62,7% dos trabalhadores assalariados. No mundo, 33% dos trabalhadores trabalham por conta própria. Entre os desenvolvidos, esse tipo de trabalhador, que pode ser caracterizado com integrantes do mercado informal, representa 7,8% do total da região. Já a região que mais tem esse tipo de trabalhador é a África subsaariana com 48,7%. A América Latina e o Caribe têm 27,1% desses trabalhadores nessa situação.
Numa comparação entre 38 países, o relatório aponta também as diferenças de gastos entre as famílias mais pobres com alimentação. Em países como Holanda e Dinamarca, os mais pobres gastam menos de 20% da renda com comida. Já em países como Armênia e Nigéria, essa população gasta mais de 80% dos seus rendimentos com a alimentação. Nessa comparação, não há o Brasil, mas há exemplos latino-americanos. No México, os mais pobres comprometem cerca de 35% da sua renda com a alimentação. Na Argentina, esse número é um pouco mais de 60%.
O relatório mostra ainda a situação da diferença entre os maiores e menores salários. Nesse artigo, já havíamos citado o índice Gini. O relatório da OIT mostra também outro índice. Chamado de razão D9/D1, este índice estabelece uma razão entre os 10% que menos ganham no país (D1) e os 10% que mais ganham (D9). Veja algumas diferenças:
Entre o menor e o maior salário mínimo do mundo, a diferença
é de 87 vezes
Diferença entre os mais ricos
e os mais pobres por país
País D9/D1
Noruega 2,09
Suécia 2,30
França 2,96
Japão 3,01
Austrália 3,10
Alemanha 3,14
Coréia 4,52
Estados Unidos 4,75
México 6,01
Venezuela 6,85
Chile 7,86
Paraguai 8,78
Brasil 9,71
Argentina 10,58
Esse comparativo, no entanto, é limitado pela escassez de dados de vários países. Não há dados, por exemplo, para os países africanos, nem do Oriente Médio, além da escassez em outros países dos continentes. Mas como pode se ver pela mostra, os países latino-americanos lideram esse triste ranking.
Outro tipo de comparação salarial, no entanto, pode ser feita com mais dados. É a questão do salário mínimo praticado em vários países. O relatório converteu os valores pela Paridade do Poder de Compra ou Purchasing Power Parity (PPP). Esse método leva em conta o câmbio de cada moeda nacional. Seu cálculo é feito através de uma base logarítmica. E o resultado é apresentado apenas em $.
Exemplos de valores de salários
mínimos em vários países
País Valor do salário mínimo (PPC) $
Tajiquistão 19
Georgia 24
Kirquistão 26
Malawi 53
Lao 65
Bangladesh 69
Madagascar 83
Haiti 90
Camarão 94
Zâmbia 96
Azerbadjão 97
Bolívia 199
México 202
China 204
Brasil 267
Bulgária 275
Chile 337
Venezuela 382
Paraguai 569
Portugal 665
Estados Unidos 1014
Canadá 1146
Nova Zelândia 1252
França 1402
Grã-Bretanha 1431
Irlanda 1450
Bélgica 1459
Holanda 1483
Austrália 1557
Luxemburgo 1655
Essa também é uma amostra. Há muitos países que não adotam salários mínimos. Dos 225 países listados pelo relatório, menos da metade, exatamente 100 adotam essa política. Há dos mais diferentes que não adotam salário mínimo como Quatar, Alemanha, Burundi ou Costa Rica.
Como se pode ver na tabela, entre o menor salário mínimo e o maior, a diferença é de mais de 87 vezes. Ganhar bem também tem a ver com o local que você nasceu, infelizmente.
domingo, 9 de maio de 2010
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